segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Análise Sintática ou Morfológica?

Eu já pensei em fazer análise...
Comecei até, porque tem horas que eu acho que no fim das contas todo mundo meio que precisa da ajuda de um profissional pra resolver um ou outro probleminha. Não qualquer problema cotidiano, falo dessas coisas que a gente traz da infância, da adolescência, da parteira, da outra vida...
Pois eu comecei a visitar uma psicóloga que me fora muito bem indicada por amigas que nada tinham em comum, a não ser a coincidência de terem sido ajudadas pela senhorinha em questão.
Ela era uma senhora.
Uma senhora... Neutra, digamos assim.
Com cara nem de boa nem de ruim, baixinha, gorduchinha, num consultório mínimo, que mais parecia uma saleta de algum servidor público de uns 20 anos atrás.
Um armariozinho de duas portas, uma mesa, 3 cadeiras, a dela e as nossas, um vaso perto da janela...
Nada de divãs.
E eu acho que todo mundo que nunca foi a um médico do juízo imagina que obrigatoriamente irá encontrar diante de si um divã.
Eu não encontrei.
Mas até aí tudo bem, a essa altura da vida, eu já tô até acostumada com as decepções que a imaginação me faz passar.
Entrei na salinha meio desconcertada.
Meu Deus!!!! O que é que eu ia falar pra ela?! Por onde começar? Pela infância, pela adolescência, por hoje?!?!? Oh me! Oh my...!
Sentei na minha cadeirinha de frente pra senhorinha e esperei ela me perguntar alguma coisa.
...
Nada...
...
Tudo bem, pergunto eu:
- E aí, doutora, o que é que eu falo?
- O que você quiser. Fale sobre o que você quiser.
- ...
Puta merda! Me dêem licença pro palavrão. Mas se eu tô querendo saber qual é o meu problema, como que eu já tenho que chegar sabendo o que dizer?!
Enfim, fiquei meio sem graça e comecei a cutucar todas as minhas feridas.
Da infância, da adolescência, de hoje, de ontem...
Sabe quando você não sabe o que falar e manda ver no que te vem à cabeça?
Pois bem, foi o que eu fiz.
Falei tudo, misturei análise sintática e morfológica.
Lá pras tantas eu comecei a chorar e a senhorinha que só ouvia e escrevia numa ficha pautada, dessas que a gente faz fichamentos na faculdade, tirou uma caixinha de lenços da gaveta e o colocou à minha frente, ao alcance de minhas pobres trêmulas mãos.
E lá estava eu, mais uma vez sem saber exatamente o que fazer, tudo me parecia tão estranho...
Eu ali naquela salinha contando minha vida inteira pra uma completa desconhecida que não me dava a mínima.
Mas enfim, como eu já tinha convocado as lágrimas, mandei ver nos lencinhos.
Chorei, chorei, chorei... Até que ela olhou no relógio e me dispensou.
Nem lembro direito o que ela falou, mas foi algo como: "Tudo bem, temos que terminar por hoje, na recepção vc marca uma nova consulta pra depois de amanhã."
- Mas doutora, func, func, já acabou? func. Já passou, func, uma hora? func, func
- Já minha filha, quarta feira conversamos mais.
E fui embora, entre fungados e lencinhos, e com uma ressaca desgraçada!
Foi isso mesmo, uma ressaca dos infernos!!!!
Eu havia passado uma hora dentro de uma saleta safada, falando de tudo de ruim que lembrava da minha vida pra uma mulher que eu nunca havia visto mais gorda, que ficava ora me olhando impassível, ora de cabeça baixa anotando o que eu falava, e não me disse uma palavra sequer!!!! A não ser um comando pra que eu, aos prantos, me levantasse e fosse embora porque já havia passado uma hora! E vocês querem que eu saia sentindo o quê?!?!?!?! Alívio?
Alívio o caramba!
Foi uma merda, isso sim...
Mas como eu não sou de desistir à primeira decepção, voltei na quarta feira, já um pouco mais familiarizada com a situação (eu me adapto rápido às intempéries)
Sentei e comecei a falar do meu namorado em questão, aí ela até deu uns pitacos, conselhinho aqui, conselhinho ali, mas nada que eu já não soubesse, nada que algumas amigas já não tivessem dito. De graça.
Não usei os lenços.
Ao fim de uma hora, olhei eu mesma pro relógio e me despedi.
- Já passou uma hora né doutora.
- Já sim.
- Tudo bem, vou marcar o retorno pra próxima semana.
- Você quer que eu recomende um remedinho?
- Não doutora, obrigada.
Ela na verdade era psiquiatra, mas dependendo da situação, atuava como psicóloga apenas, e era exercendo a segunda função que eu havia tomado ciência da sua competência.
E fui embora de novo. Com menos ressaca, mas ainda com um gosto estranho na boca.
Como boa insistente, marquei o retorno.
Voltei ainda algumas vezes, mas na boa, deu pra mim não.
E eu até fui de cabeça e coração abertos, com boa vontade mesmo, mas não rolou.
Eu sabia de tudo.
Não que eu seja pretensiosa ou ignorante, mas eu sabia, e sei, de todos os meus porquês.
Uma pessoa que pensa tanto toda hora, e que analisa tanto tudo que faz e deixa de fazer, e que tá sempre tentando achar o erro e o acerto das próprias atitudes, tem que no mínimo se conhecer um bocadinho.
Eu desisti da senhorinha e segui minha vida sem análise.
Não estava certa da necessidade de resolver certos problemas.
Será mesmo que nós temos necessidade de resolver todos os nossos problemas?
E além do mais, a vida é tão fácil.
Depois de alguns atravancos e pedras pelo meio do caminho, fui desenvolvendo meus mecanismos de conformação se fosse o caso; de aprendizado, que sempre é o caso; de deixar pra lá, que quase, quase sempre é o caso também. E fui ficando leve...
Levei ao pé da letra o que o "Filtro Solar", aquele que o Bial traduziu, dizia sobre quase tudo, e o que eu mais lembro agora, talvez porque seja o que eu mais faço, é: "Todo dia faça alguma coisa que te meta medo de verdade"
Eu faço, mas aí é papo pra outro post, porque agora eu tenho que trabalhar.

Beijinhos!


sexta-feira, 5 de novembro de 2010